G1 explica por que compositores parecem escrever letras românticas tentando soar eruditas, com descrições e trocadilhos meio exagerados ao estilo do rapper Projota. Veja análise em vídeo.
Por Braulio Lorentz e Rodrigo Ortega
Em suas músicas recém-lançadas, Luan Santana fala de uma relação sofrendo um “Choque Térmico”, e a cantora do Melim reclama que foi botada na geladeira por seu pretendente, em "Gelo".
São duas das tantas metáforas sobre quente e frio cantadas pelo astro sertanejo e pelo trio carioca de MPB pop.
Luan e Melim também mostram duas paixões do povo brasileiro em geral:
- A primeira é a fascinação do Brasil por neve, gelo, frio. Saudades do meme “bonecos de neve brasileiros”?
- Mas a paixão mais perigosa é aquela por versos românticos que mostram a "projotização" do pop brasileiro.
Parece existir uma insistência dos compositores brasileiros em escrever letras com trocadilhos românticos. O recurso antes mais restrito ao hip hop de rappers paulistanos como Projota e Haikaiss agora se expande para outros estilos.
É impressionante essa tentativa de mostrar conteúdo, erudição. Não basta amar. Você tem que amar e saber citar expressões incomuns e jogos de palavras às vezes exagerados.
Ouça o programa G1 Ouviu dessa semana, que falou de Luan, Melim e outras novidades:
Parece que os compositores estão escrevendo com um dicionário de sinônimos na mão. O G1 já havia reparado no sucesso desse estilo de falar sobre amor, que virou piada na voz de Marcelo Adnet, em uma paródia sobre Projota.
Melim e Luan Santana esgotam todas as metáforas sobre frio e calor. Há versos sobre dar gelo, pegar fogo, congelar, geleira, beijo quente…
Não é uma novidade sequer para os compositores. Um dos caras que escreveu “Choque Térmico”, Marco Carvalho, já havia usado essa temática invernal em “Seis graus abaixo de zero”, da dupla Breno & Caio Cesar.
Os casos de Luan e Melim representam mais o uso de trocadilhos desse fazer poético "projotizado". Há também um lado mais Tarantino, no qual o compositor parece querer enfiar o maior número de citações pop por versos.
A nova de Iza, "Meu talismã", é um exemplo recente dessa onda. A referência nunca pode ficar no ar. Ela vem mastigada. Lá pelo meio da música, a cantora carioca diz que o cara é complicado e perfeitinho, "tipo Raimundos".
Depois de tanta reclamação de que a música realmente popular brasileira estava sem boas letras, é natural que exista esse movimento em tentar deixar tudo mais rebuscado.
Mas será que dá para achar um meio termo entre odes às bundas e pop pernóstico?
Fonte:g1/pop-arte