Interessado em carreira internacional, Luan Santana pouco a pouco se distancia do sertanejo e abraça uma linguagem mais pop. Seu novo single, “Check-in”, com lançamento previsto para a próxima sexta (8/12), bebe do reggaeton, com elementos eletrônicos. Provavelmente, será enquadrado como sertanejo nas rádios e plataformas digitais, mas fique ligado: não é. O clipe, gravado na Colômbia, tem direção do americano Gil Green – escolhido a dedo pelo cantor após assistir ao vídeo da música “Swalla” de Jason Derulo com Nicki Minaj. Green também já trabalhou com DJ Khaled, Lil Wayne e Akon. Não são exatamente o tipo de referência óbvia para um artista sertanejo. É importante dizer que, caso Luan realmente faça a transição de gênero musical no rumo em que parece apontar, tem tudo para ser o nome masculino mais relevante do pop nacional (digo um pop genuíno, não um sertanejo-pop) – o único capaz de alinhar qualidade vocal e alta popularidade. Por enquanto, quando há um, falta o outro. Na maioria das vezes, não há nenhum nem outro.
Ouvi o single e vi o clipe novo de Luan Santana em primeira mão. É importante contextualizar: uma semana antes do lançamento, o cantor realizou um evento interestadual para mostrar o trabalho com exclusividade para um grupo de fãs e jornalistas selecionados. Em parceria com a Gol, ele fechou um avião e levou 140 pessoas em um voo de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, com direito a um showzinho no céu (talvez o equivalente do Roberto Carlos em alto mar): fiz uns vídeos e mostro abaixo. O destino final eram salas de cinema onde ele mostrou o clipe e não parou de perguntar o que todo mundo tinha achado. O POPline estava lá. Eu, mais precisamente, estava lá. Posso dizer que apenas observei repórteres, fotógrafos e cinegrafistas aplaudindo o vídeo quando ele chegou ao fim.
Posso dizer mais do que isso, na verdade. A produção do evento não permitiu que ninguém filmasse a tela do cinema para que o clipe não vazasse, mas não falaram nada sobre dar spoilers. Então, vamos lá. “Check-in” é o clipe mais sexy da carreira de Luan Santana – e talvez também o melhor de sua escassa videografia. Leve em consideração que ele apareceu na cama com uma mulher em “Acordando o Prédio” e beijou muito em “Acertou a Mão”. Mas o primeiro era uma comédia com Whindersson e o segundo foi de um romantismo tedioso. Em “Check-in”, Luan Santana se envolve com uma enfermeira sensual – fetiche de filmes pornográficos e lojas de sex shop. Não há humor nem romance. É só tesão mesmo. O vídeo é ambientado em um manicômio, supostamente uma ideia do próprio artista, e começa com alguém cortando o cabelo de Luan Santana de verdade (vide o novo visual dele). O cantor é um interno do hospício e está contido em uma camisa de força. Então, a enfermeira chega com a medicação e protagoniza a cena mais apimentada: em vez de dar o comprimido com a mão, dá com boca. Comprimido passando de lábios para lábios – mais excitante do que qualquer beijo que eles pudessem dar. Ponto para quem teve essa ideia.
Ah! A primeira parte da música, em que acontece tudo isso, é praticamente uma balada, daquelas que Luan faz há bastante tempo. Depois do comprimido, no entanto, tudo ganha um ritmo dançante e acelerado: chega o reggaeton. Luan canta versos como “check-out desse mundo e check-in no seu colchão” e “Deus fez a mulher da costela do Adão / quando foi fazer você fez o filé mignon”. Sim, isso do filé mignon é um tanto tosco, além de tratar a mulher como um pedaço de carne. Na verdade, também tenho problemas com a questão da costela de Adão, mas deixo esse papo para outro dia. O fato é: Luan não está tentando ser o galã fofinho de outrora. Mesmo na sexual “Acordando o Prédio”, ele chama a transa barulhenta de “fazer amor”. Em “Check-in”, não há qualquer romantismo. É isso aí: check-in no colchão e pronto. Mais dirty.
Depois que Luan toma esse comprimido, o clipe ganha um tom alucinado, o que explica a capa do single (acima). É como se ele delirasse. Passa a ver a enfermeira sexy em trajes típicos de deusas tailandesas e africanas. Acompanhada de outras duas mulheres, ela dança entre efeitos visuais computadorizados. Há também uma cama redonda, velas, castiçais e almofadas coloridas. Tudo se passa dentro da cabeça de Luan Santana, mas fica também a sugestão de que a enfermeira possa estar se aproveitando do cara. Por que lhe deu um comprimido alucinógeno? O que acontece de verdade enquanto Luan tem esse tipo de visões? Quais estímulos para isso? A mente do espectador pode devanear como a do personagem na tela.
Luan Santana está aprendendo a fazer clipes decentes. “Check-in” é infinitamente melhor que “Acertou a Mão” (ele gravou ambos em dois dias nessa viagem a Bogotá). Acho que ainda não chegou ao nível de excelência exigido por fãs de música pop, mas é muito mais do que os fãs de sertanejo estão acostumados a receber. Em 2016, quando Luan venceu o Prêmio Multishow de melhor clipe com “Eu, Você, o Mar e Ela” por voto popular, o diretor artístico Giovanni Bianco (de clipes da Anitta) disse que aquilo era “horrível” e “inútil”. Derrotada com “Bang”, Anitta ainda tentou amenizar dizendo que a equipe de Luan tinha dito que haviam aprendido a fazer clipe com a videografia dela. Bianco rebateu: “mas não aprendeu nada, porque é horrível”. Um ano se passou e o cantor evoluiu. “Check-in” é mais interessante que “Will I See You” e “Is That For Me” – alguns dos últimos clipes lançados por Anitta.
Não bati palma como os colegas da imprensa (não sei se entusiasmados ou corteses). Sou bem crítico. Vejo Luan em um longo e cuidadoso processo de transição, que me desperta interesse pelo que está por vir, mas ainda não me empolga pelo presente. Fiz uma entrevista com ele, que em breve estará aqui, e algumas dessas questões sobre o futuro ficarão mais claras. Por enquanto, fiquem com isso: “Check-in” representa a evolução audiovisual de Luan Santana. Está quase bom o suficiente para se sentar com a gente – fãs de pop.
Fonte:portalpopline